quinta-feira, 30 de abril de 2009

Que livro brasileiro você é?

Veja, nesta tarde preguiçosa, eu fiz um teste (adoooro) que perguntava Que livro você é? e foi como uma ciência exata. Eu sou Memórias Póstumas de Brás Cubas*, o livro que eu mais gosto e que mais me identifico.

Olha só, a descrição da minha personalidade:

Ok, você não é exatamente uma pessoa fácil e otimista, mas muita gente te adora. É possível, aliás, que você marque a história de sua família, de seu bairro... Quem sabe até de sua cidade? Afinal, você consegue ser inteligente e perspicaz, mas nem por isso virar as costas para a popularidade - um talento raro. Claro que esse cinismo ácido que você teima em destilar afasta alguns, e os mais jovens nem sempre conseguem entendê-lo. Mas nada que seu carisma natural e dinamismo não compensem.

Eu. Eu sou como o Brás Cubas, principalmente sobre o cinismo ácido, que eu prefiro chamar de ironia fina. E a última frase do livro, é uma das únicas que eu tenho gravada na memória:

Nunca tive filhos. Não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.

Eu poderia escrever milhões de palavras sobre não ter filhos e tudo o mais. Sempre digo, parafraseando Machado: Não terei filhos. Não transmitirei a nenhuma criatura o legado da nossa miséria. E também sobre o livro, que junto com Angústia de Graciliano Ramos, é o livro que mais li na vida. Leio todo ano.

Pra quem nunca leu, taí um livro que vai te fazer rir, como todo o cinismo ácido de Brás Cubas, o escritor-defunto, ou o defunto-escritor. Bobagem pensar que Machado de Assis é chato. É chato quando você não tem maturidade para 'ver' o que ele tem a dizer, como fazem com a gente na escola aos doze anos. Tente agora, depois dos 20, ou dos 30. Você vai descobrir o quanto é divertido e porque Machado de Assis é considerado o maior (eu prefiro dizer melhor) escritor brasileiro.



*"Memórias póstumas de Brás Cubas" (1881) é considerado o divisor de águas entre os movimentos Romântico e Realista. Uma das expressões da genialidade de Machado de Assis (e de sua refinada ironia), há décadas tem sido leitura obrigatória na maior parte das escolas e costuma agradar aos alunos adolescentes. Já inspirou filme e peças de teatro. É, portanto, um caso de clássico capaz de conquistar leitores variados. Proezas de Machado.

Dá pra baixar o livro de graça no site do Domínio Público. Aqui.


quarta-feira, 22 de abril de 2009

Eu queria estar em São Paulo para poder ler de perto a crônica emoldurada e autografada pelo Marcelo Rubens Paiva.

Ele a escreveu como uma resposta ao que escreveu Paulo Mendes Campos.

Para saber a história da crônica e sobre a "Expo Brutal", clique aqui.

Eis a crônica:

O amor acaba? O cara disse. Numa esquina, num domingo, depois do teatro e do silêncio, na insônia, nas sorveterias, como se lhe faltasse energia. Ele não volta? Não deixa rastro ou renasce? Na esquina em que se beijaram uma vez, lá está, na sombra apagada pela luz, na poeira suspensa, na revolta da memória inconformada. Na solidão, lá vem ele, volta, com lamento, um quase desespero, e penso nos planos perdidos, que vida sem sentido... Na insônia, o amor cai como uma tonelada de lápide, e se eu tivesse feito diferente, e se eu tivesse sido paciente, e se eu tivesse insistido, suportado, indicado, transformado, reagido, escutado, abraçado? Na sorveteria, ele volta, o amor, em lembranças. Porque aquele sabor era o preferido dela, aquela cobertura era a preferida dela, aquela sorveteria era a preferida dela, aquela esquina, aquele bairro, aquele clima, aquela lua, aquele mês, aquela temperatura, aquela raça de cachorro, aquele programa de fim de tarde e aquele horário sem planos... No elevador, quantas saudades daqueles segundos em silêncio, presos na caixa blindada, vigiados por câmeras camufladas, loucos para se agarrarem, rirem, apertarem todos os botões, tirarem a roupa, escreverem ao lado do Atlasado: “Eu te amo”. Saudades é amor. Não se tem saudades do que não se amou. O amor não acaba, porque tenho saudades, me lembro dela, me preocupo com ela, torço por ela, e se sonho com ela, meu dia está feito. O amor não pode acabar, porque sem ela ou sem a esperança de revê-la, até a chance de tê-la de volta, não vejo a paz. Ela é uma trégua na minha guerra pessoal contra a minha paixão por ela. Amá-la me faz bem. Mesmo que ela não me ame, amo amá-la. Continuei amando desde o dia em que terminou. Passei meses amando como se não tivesse acabado. Ficaria anos amando mesmo se não tivesse voltado. O amor não acaba, muda. O amor não será, é. O amor está. Foi. Nas tantas músicas que ouvimos, que dançamos colados, trilhas das noites frias em que você sentava em mim nua, enquanto os meus braços imobilizavam os seus. Amor. O não-amor é o vazio. O antiamor também é amor. Eu te amava quando você respirava no meu ouvido. Lembra do meu dedo dentro de você? Amo-te, amo-te, amo-te. Instante secreto, sua boca incha, seus olhos apertam, suas unhas me arranham e você diz: Eu te amo! O amor acabou quando você se foi? Você sentiu saudades das minhas paredes, das cores das minhas camisas, da umidade da minha boca, do cheirinho do meu travesseiro, da minha torrada com mel, das noites pelados assistindo à tevê, dos vinhos entornados no lençol, do café da manhã com jornal, você sentiu falta de atravessar a avenida comigo de mãos dadas, de correr da chuva, de eu te indicar um livro, do cinema gelado em que vimos o filme sem fim, torcendo para acabar logo e ficarmos a sós, você sentiu falta da minha risada, inconveniência, de eu ser seu amante, noivo, amigo e marido, dos meus olhos te espiando, dos meus dentes mordendo e mastigando, ficou tanto tempo longe e pensou em nós especialmente bêbada ou louca, queria me ligar, me escrever, meu cheiro aparecia de repente, meu vulto estava sempre ali, acaba? Diz que acaba. Como acaba? Não acaba. Diz, não acaba. Repete. Falei? Não acaba. Pode virar amor não-correspondido. Pode ser amor com ódio, paixão com amor. Tem o amor e o nada. Ah, mais uma coisa. Antes que eu me esqueça. O amor não acaba. Vira. Se acabar, não era amor.

...


Pois é, para mim, não acaba. Vira alguma outra coisa que pode ser ódio, tesão, saudade, mágoa. Todos os meus amores não acabaram assim, num piscar de olhos, eles se transformaram, alguns em coisas ternas, outros em mágoa, mas eu sei que, em algum lugar, ainda existe o amor.


...

sexta-feira, 17 de abril de 2009


Coisas curiosas aqui em Santiago:


- Ontem teve um paro, que é greve, por causa da crise financeira, rolou Zé Gotinha e bombas de gás, e todas, TODAS, as pessoas que passavam pelo local sabiam se proteger das bombas de gás. Resquício da ditadura do Pinochet...

- Aliás, a ditadura aqui é um assunto controverso. Algumas pessoas acreditam que o Allende se matou mesmo, outras são mais instruídas, por assim dizer. Há aqueles que dizem Mi general e outras que dizem, aquele demônio. Estou confusa quanto há isso ainda.

- A ditadura deixou resquícios bons e ruins. Os bons: o povo é politizado, reclama, faz protesto. Os maus: não se pode beber na rua, as escolas, públicas ou particulares, têm o mesmo uniforme e quase tudo fecha as 11 da noite.

- Em qualquer lugar da cidade, seja turístico, rico ou pobre, sempre há uma bandeira do Chile. Ás vezes, existe 18, como no palácio de La Moneda. Mas elas estão em todos os lugares. Para uma brasileira, isso é impressionante porque o patriotismo por aqui não é coisa de copa do mundo.

- Mais patriotismo chileno: eu vejo alguns jogos de futebol pela TV, e a cena sempre se repete: eles gritam desesperadamente: chi-chi-chi, le-le-le, ¡Viva Chile! É lindo de ser e de se escutar. Emocionante.

- Estou me tornando uma torcedora do time de futebol da Universidad de Chile. La U, para os íntimos. Na hora de dizer La U, faz um U com a mão direita, bate no peito e grita LA U!

- Ainda ele, o futebol: os torcedores mais fanáticos e sem dinheiro, nos dias de jogos, estendem suas camisas na calçada e pedem moedas. Para ir ao estádio.

- As pessoas e os cachorros se sentam em qualquer lugar. Chão, grama, banco. Não importa, está cansado, eles se sentam.

- Cachorro, por aqui, espera o sinal fechar para atravessar a rua. E há muitos deles na rua, porque não existe carrocinha. Nem tenho conhecimento de alguma ONG que faça este trabalho.

***

Eu já tenho uma quase vida aqui agora. Trabalho, vou ao supermercado, arrumo mais ou menos a casa, saio, sempre tem uma festa, um almoço, um jantar. Está ficando mais divertido. E a cidade é bonita, muito bonita, e agora que o outono está finalmente chegando, ta ficando mais bonita ainda, porque está tudo meio amarelado, as folhas estão caindo e parece coisa de filme ‘roliudiano’. E é incrivelmente bonito. Todo dia, quando eu acordo, abro a cortina do meu enorme apartamento e vejo a cordilheira, essa vista aí da foto.


Chato né?


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segunda-feira, 13 de abril de 2009

Meme - 6 coisas aleatórias sobre mim

Bem, eu vou roubar a meme da Dani, que originalmente quebrou a corrente que foi enviada a ela pela Bruna.
O objetivo é dizer 6 coisas aleatórias sobre você e eu vou quebrar também porque não vou passar pra ninguém. Achei divertido, vamos lá:

  1. Eu sou bailarina clássica: pois é minha gente, quem me vê hoje com essa preguiça no corpo e “(des)ativista” do sedentarismo, não imagina que eu passava quatro horas por dia, cinco vezes na semana fazendo alongamento e dançando e com o pé cheio de bolha da sapatilha de ponta. Comecei a fazer balé clássico aos três e depois seriamente dos 7 aos 18 anos, me formei e poderia dar aulas ou ter tentado entrar numa companhia de dança, mas sabe, eu sou realista e gosto de dinheiro e sendo bailarina, seria pobre e não poderia comer coxinha pra ser magra como eu era. Sem contar que não tinha tanto talento assim...
  2. Eu estudo espanhol desde os catorze anos: não sei explicar de onde eu tirei a ideia de aprender falar espanhol, mas nerd que sou aprendi as minhas primeiras palavras com 13, 14 anos. E enfim, fiz aula e tudo, depois tive aula de verdade no colégio (o que me deixava surpresa, pois a gente aprende inglês no colégio da 5ª ao 3º colegial e sai de lá sem saber falar the book is on the table direito, e o espanhol na minha escola era sério pra caramba). E agora cá estou eu, falando cada dia melhor e com dificuldades enormes pra escrever as palavras e construir frases em português.
  3. Eu já comecei uns quatro cursos na faculdade: e não terminei nenhum. Quando saí da escola comecei a fazer arquitetura e tranquei no final do 1º ano por falta de pagamento. Depois comecei a FATEC e aí teve uma greve no meio da caminho, uma monte de dias no bar, a vida tão mais interessante lá fora que desisti. Comecei fazer arquitetura de novo depois de uns dois anos da mais pura vagabundagem, mas era na UNIP e eu não tinha saco para uma aula que você precisa de atenção do professor quase que exclusivamente e a classe tinha 98 alunos. No ano passado eu prestei vestibular bêbada na FATEC e passei em 10º lugar. Adoro falar isso porque é uma faculdade pública. E tive que trancar porque estou aqui, no Chile.
  4. Eu fumo desde os 13 anos, eu acho: sim, eu fumo e ADORO fumar. Sem brincadeira alguma, faz mal para a saúde, provavelmente terei um câncer e um enfisema, mas eu gosto de fumar. Adoro acender um cigarro, sentadinha olhando pro nada.
  5. Eu não lembro o nome do menino que eu dei meu primeiro beijo: não lembro, não sei quem era e nem adianta me esforçar. E olha que eu sou quase como um elefante, eu me lembro de coisas de quando eu tinha 3, 4 anos. Mas o nome do fulano que eu beijei a primeira vez não lembro. E eu devia ter uns 11 anos, porque enquanto as meninas queriam brincar de boneca, eu queria era brincar com o Kem. Deve ter sido horrível, porque ? Mas também, foram tantos outros depois que fica difícil...
  6. Eu prefiro salgados a doces: apesar de estar viciada em Sahne Nuss, um chocolate que tem aqui no Chile, e pelo que eu vi, só tem aqui, se me pedirem para escolher entre um chocolate e uma coxinha eu fico com a coxinha, não tenha dúvidas. Sei lá, doces enjoam, salgados não...


Surpresos? Quem fizer o meme me fala pra eu ir ver. :)

domingo, 5 de abril de 2009

Preguiça

Não sei o que acontece mas eu ando com uma preguiça monstra de escrever. Pode ser a incrível dor na boca que senti durante toda a semana passada ou qualquer outra coisa.

Mas é que não tenho muito que dizer. Ah sim, me mudei, finalmente, para minha casa, que não tem nada ainda, mas tem uma cama e uma TV. E o prédio tem TV a cabo o que já facilita a minha vida em muitas coisas, uma vez que não faço nada aqui além de trabalhar e ver TV.

Outra coisa, meu visto permanente saiu. Sou uma quase chilena, se é que isso é bom. Continuo tendo problemas com a eficiência e cordialidade chilena, mas já acostumei com a falta de educação e boa vontade das pessoas por aqui.

E para ajudar bastante, eu vivo num bairro gay. Divertidíssimo. Era só o que faltava. Meu vizinho da frente é gay, o do lado é gay, no supermercado aqui perto só tem gay. Ai ai, Frei Caneca e adjacências. Tudo que eu queria sabe?

São Paulo foi ‘naisse’. Eu tenho umas fotos e assim que eu me lembrar de resgatar do cartão de memória coloco no flickr lá do trabalho, já que a internet que eu tenho em casa não dá pra essas extravagâncias...



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